terça-feira, setembro 08, 2009

Justiça e emoção em competições de surfe

O Hobgood que já venceu no Brasil mas nunca foi campeão mundial (sabes qual?) perguntou lá no blog deles: você prefere um campeonato com 16 surfistas (e sem baterias soníferas) ou com 28, maior possibilidade de baterias soníferas mas também de um roteiro de cinderela e um campo internacional de competidores?

Confesso que foi difícil traduzir o original, até pela construção frasal meio confusa, então desculpem as diferenças: Would you rather see a contest with the top 16 (no sleeper heats)?… or see a contest with top 28 which could have sleeper heats but a better possibility of a cinderella story and international field?…

A redução no número de competidores é uma das mudanças mais prováveis para 2011, a ser definida até o final do ano. Quase certamente resultado da pressão do "tour rebelde do Slater". A maioria de nós acompanha esses debates de longe, sem contato direto com os protagonistas, pelos relatos na web. Chega a ser ridículo opinar, a sensação é de atirar palavras ao vento, porém vou aventar algumas opiniões a quem interessar possa.

Tirando as razoáveis questões de infraestrutura e remuneração, me parece que a reclamação geral é por disputas mais emocionantes e resultados mais justos.

A pergunta do Hobgood, no entanto, me parece errada na essência. Porque uma "bateria sonífera" independe da notoriedade dos competidores (e talvez até da qualidade, no alto nível de rendimento a que nos referimos). Quem nunca viu Slater (ou Andy Irons) dormir em bateria? Ou uma decisão emocionante entre dois ilustres desconhecidos no WQS? A importância do resultado para os competidores, a motivação deles, além das virtudes técnicas, é muitas vezes o que dita a emotividade de um confronto (sem falar na questão pessoal: o que os competidores representam para quem os assiste). Em geral, creio que às vezes é melhor ter estrelas versus desconhecidos do que apenas estrelas na água.

Comentaristas como o Lewis Samuels idealizam competições com apenas apresentações impecáveis. Eu diria que são observadores puristas: privilegiados pela capacidade de analisar o que vem, mas talvez entojados por essa superioridade. Nos comentários do próprio Postsurf li algo que ajudou a esclarecer minha opinião sobre essa postura: alguém escreveu que não tem saco para assistir vídeos promocionais, por mais espetaculares que sejam os desempenhos e as ondas: porém não perde uma transmissão de campeonato, pela irrevogabilidade dos resultados: naquele período de tempo pré-determinado se definem vencedores e perdedores, e o que gostamos de ver são competidores ganhando e perdendo. De preferência, tendo alguém para torcer. É também o meu caso, mas obviamente uma questão de gosto.

Dito isso, é preciso acrescentar que no surfe, além de motivação e qualidade de desempenho, há outro aspecto fundamental: as ondas. As competições dependem de uma arena competitiva imprevisível e inconstante, o mar. O que me lembra Jeffrey's Bay este ano, relatado como o melhor de todos os tempos. Mas algumas baterias tiveram intervalos de vinte minutos entre séries, apenas um seriado decente por disputa. Nessas horas pode colocar dois Kelly Slater de vinte anos na água que vai dar sono.

Então será que baterias de uma hora de duração entre poucos eleitos em locações ideais resolveriam o problema (de disputas emocionantes e resultados justos)?

Há no Brasil um debate eterno sobre a melhor fórmula para campeonatos de futebol, o de pontos corridos ou o de jogos eliminatórios. É questão de preferência: um parece mais justo, pela igualdade de chances, e o outro mais emocionante, devido aos jogos decisivos. Mas só parece, pois tudo, circunstancialmente, pode mudar. Inclusive por fatores extra-campo ou não relacionados com times e atletas, como por exemplo a arbitragem.

Críticas sobre formatos de disputa e critérios de julgamento sempre aumentam quando o resultado não é o desejado. O que me lembra que, no futebol, os erros de arbitragem raramente nos incomodam quando favorecem o time para o qual torcemos. Mas se for o contrário... Não tem porque ser diferente no surfe.

Competições de surfe têm de fato o que evoluir e torço para que isso aconteça. Porém toda mudança tem aspectos positivos e negativos, beneficiados e prejudicados. Um tour "mundial" focado exclusivamente na rivalidade entre australianos e norte-americanos (com a natural concessão a alguns havaianos) seria um enorme retrocesso. Tem muita gente torcendo por isso, mas felizmente são apenas espectadores, assim como eu.

1 Comentários:

Aline Cabral Vaz disse...

Escreve moento!